Há doze anos, em 27 de janeiro de 2013, um incêndio atingiu a Boate Kiss, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Cerca de 1,2 mil pessoas estavam na casa noturna, em uma festa organizada por estudantes de seis cursos da universidade federal local. A capacidade do espaço era de 691 pessoas e 242 jovens morreram na tragédia.
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Homenagens foram organizadas pela Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) e o Coletivo Kiss: Que Não se Repita, com o apoio da Prefeitura de Santa Maria.
Na noite do último domingo, dia 26, ocorreu uma vigília na Praça Saldanha Marinho. Em seguida, uma caminhada silenciosa percorreu a avenida Rio Branco até o local onde funcionava a boate, e que hoje está sendo construído um memorial.
No local, ocorreu o ato “Muro da Memória”, com a fixação de fotos das vítimas e velas formando o número 242. Vídeos com mensagens e depoimentos também foram exibidos, além do tradicional “minuto do barulho”, próximo ao horário em que o incêndio começou.
Memorial
A cidade de Santa Maria se prepara para inaugurar um memorial em homenagem às vítimas da Boate Kiss. O projeto, escolhido por meio de concurso nacional de arquitetura, prevê construção de um espaço que represente o luto e a memória. O prédio onde funcionava a casa noturna já foi demolido.
O memorial contará com um jardim circular com 242 pilares de madeira, cada um com o nome de uma vítima e um suporte para flores. Haverá também um auditório, uma sala multiuso com acervo multimídia e uma sala para a sede da AVTSM.
Relembre o caso
Na noite da tragédia, com a boate lotada, durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista acendeu um sinalizador de uso externo, cujas faíscas atingiram o teto revestido com espuma de isolamento acústico inflamável. O incêndio se alastrou rapidamente, gerando uma fumaça tóxica que asfixiou as vítimas.
A situação foi agravada pela falta de comunicação entre os seguranças, que inicialmente impediram a saída das pessoas pela única porta, acreditando se tratar de uma briga ou tentativa de evasão sem pagamento.
A confusão se intensificou, com muitas pessoas buscando em vão a saída pelas portas dos banheiros. Um dos seguranças admitiu a ausência de treinamento contra incêndio e a inexistência de saídas de emergência adequadas.
No dia seguinte, a prisão temporária dos sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, e dos integrantes da banda Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos foi decretada.
Situação na Justiça
Após reviravoltas judiciais, em 2019 o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que os quatro acusados seriam levados a júri popular. Em dezembro de 2021, o julgamento resultou em condenações por dolo eventual, com penas que variavam entre 18 e 22 anos e 6 meses de prisão.
No entanto, em 2022, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) anulou o julgamento, alegando nulidades processuais, como o sorteio dos jurados fora do prazo legal e a impossibilidade de acesso prévio à lista dos jurados pelas defesas. A decisão gerou indignação entre familiares e sobreviventes, que consideraram a anulação baseada em detalhes técnicos que não prejudicaram o julgamento em si.
Em setembro de 2024, Mauro Londero Hoffmann, Elissandro Callegaro Spohr, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos retornaram à prisão. A decisão foi proferida pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que derrubou as decisões anteriores que haviam anulado o júri.
A anulação, ocorrida em agosto de 2022 pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, havia libertado os quatro réus, sob alegações de irregularidades no processo, como falhas na escolha dos jurados. A decisão do STF restabeleceu as condenações originais, determinando a prisão imediata dos réus.