A gaúcha Madalena Silva, que sempre sonhou em entrar para a aviação, acabou perdendo a vida em um trágico acidente aéreo no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
Desde criança, quando havia uma data comemorativa da qual pudesse ganhar presentes, a jovem sempre pedia aos pais por aviões de brinquedo. O pai de Madalena, José Roberto Silva, conhecido como Beto, um empresário natural de Caxias do Sul (RS), contou ao Oeste Mais que a paixão da filha por aviões surgiu ainda na barriga da mãe, dona Therezinha Silva.
“Nós andávamos naquelas aeronaves menores, de teco-teco, e foi uma coisa que me chamou muito a atenção anos depois, porque despertou a vontade dela de entrar para a aviação”.
Madalena ganhou várias aeronaves no decorrer dos anos. Todas elas ficavam em uma prateleira no quarto e também na estante da sala, expondo ali o sonho dela por voar.
Hoje, os aviões de brinquedo estão guardados em caixas no apartamento onde a família mora, em São Paulo, a poucos metros de distância do local onde Madalena respirou pela última vez.
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O sonho se tornou pesadelo
Naquele final de tarde de terça-feira, dia da semana em que ocorreu o acidente aéreo com o voo 3054 da TAM, Beto, a esposa Therezinha e a outra filha do casal, Soélen - na época com 16 anos - estavam em casa, na pequena cidade de Dois Irmãos (RS), entre Porto Alegre e Gramado.
Madalena estava noiva e o companheiro costumava levá-la até o aeroporto para que ela pudesse trabalhar como comissária de voo no emprego que havia começado dez meses antes. Quando ele não podia, o pai fazia esse trajeto com a filha.
Naquela tarde, depois de passar o dia todo com a família, Madalena foi levada ao Aeroporto Salgado Filho por Beto, que retornou para casa logo em seguida. Com o passar do tempo, a família começou a acompanhar no noticiário, pela televisão, que havia acontecido um acidente grave próximo ao aeroporto onde a filha mais velha do casal desceria.
Já abalados, Beto e Therezinha perderam as esperanças quando foram informados que se tratava da aeronave em que Madalena estava.
“Por volta da uma da madrugada, foi que a companhia da TAM entrou em contato com nós. Mas nós já sabíamos, porque a gente ligava para ela e ela não atendia”, relembra o empresário.
A casa da família gaúcha passou a encher de gente na madrugada. Eram amigos, parentes, pessoas que já estavam sabendo do desastre, e que buscavam amparar Beto e a esposa naquele momento tão difícil.
Processo de identificação
Todos os corpos dos passageiros do Airbus A320-233 acabaram carbonizados no acidente. O avião saiu da pista 35L e se chocou contra o prédio da companhia aérea TAM Express e um posto de gasolina, explodindo na hora.
Muitas famílias foram obrigadas a esperar impacientes pela identificação das vítimas, sendo que quatro delas nunca foram identificadas.
No caso de Madalena, Beto relata que o corpo da filha foi identificado somente 25 dias após o acidente.
“180 pessoas foram identificadas antes dela. Durante esses 25 dias, nós ficamos numa aflição enorme, já sabendo que a gente não iria mais ver ela, mas ao menos que tivesse o corpo”.
Os restos mortais de Madalena foram entregues em uma urna à família. Beto não chegou a ver o corpo da filha, pois queria guardar na mente apenas as lembranças boas e imagens bonitas da jovem.
Momentos que não se esquecem
Beto e a esposa nunca tinham ido a São Paulo antes do acidente. Depois, quando precisaram se deslocar por mais de mil quilômetros para fazer a identificação da filha, pela primeira vez, nunca mais pararam e as viagens jamais foram as mesmas.
“Foi o pior voo da minha vida”, recorda.
José Roberto era empresário do ramo de calçados no Rio grande do Sul. Ele permaneceu com o trabalho durante os últimos 14 anos, entre o estado gaúcho e São Paulo. Precisava se deslocar muitas vezes por mês para participar das reuniões da Afavitam, associação pertencente às famílias, da qual ele faz parte desde o início.
“Quando percebemos, já estávamos aqui”.
Beto se estabeleceu em São Paulo junto da esposa e da filha caçula ainda no ano passado, após se aposentar. O empresário vendeu todos os imóveis que tinha no RS e comprou um apartamento, onde, da janela do prédio, do 22º andar em que reside, consegue admirar a vista da cidade e também ver parte da pista de pouso, onde a filha costumava embarcar para seguir a carreira que sempre sonhou ter.
Apesar de não tê-la mais perto, e da saudade nunca passar, Beto e Therezinha buscam amenizar tudo revendo as fotografias de Madalena. A voz da filha nunca mais poderá ser ouvida, mas a memória do rosto dela ainda segue intacta no coração do casal.
“14 anos se passaram, mas ao invés de diminuir a saudade, aumenta mais ainda, porque a gente não pegou um rumo ainda”.
Tentando recomeçar
José Roberto buscou por justiça junto com as demais famílias que perderam alguém naquela noite. Mesmo não podendo ter a filha de volta, durante anos ele frequentou o Aeroporto de Congonhas, no mesmo horário, todas as terças-feiras, para poder acompanhar o desembarque do voo que era de Madalena.
Exatas 18h45, horário em que a aeronave vinda de Porto Alegre pousava em São Paulo, Beto permanecia no setor de desembarque aguardando todos os passageiros descerem.
“Não sabia exatamente o porquê, mas em cada tripulante que saia, eu via a Madalena”.
Durante esse período, José e Therezinha fizeram muitas amizades com os funcionários da TAM, levando doces para eles como uma forma de carinho e generosidade.
Com a chegada da pandemia, o casal não pôde mais frequentar o local, mas guarda na lembrança cada pessoa que os acolheu no aeroporto e naquele momento de dor.
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