Por Irdes Melyna Branco
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos
Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS
A língua inglesa é, atualmente, o idioma mais falado do mundo, segundo levantamento, realizado no primeiro semestre de 2020, pelo site World Tips e divulgado pelo Instituto de Investigação e Desenvolvimento de Política Linguística (Ipol). É também a principal língua do mundo virtual e suas tecnologias, assim como é também bastante utilizada quando o assunto envolve turismo e até mesmo questões empresariais e políticas. Conforme os dados levantados, nos dias atuais há no mundo cerca de 1.132.366.680 de falantes da língua inglesa.
Mas, será que aqui no Brasil usamos muitas palavras inglesas? O que é este fenômeno linguístico? Será que ele é novo e está ocorrendo há pouco tempo?
Dentro da linguística, podemos explicar a ocorrência dessas palavras de origem inglesa sendo usadas no português brasileiro, a partir de dois fenômenos: o estrangeirismo e o empréstimo linguístico.
De acordo com um artigo publicado por Manzolillo (2000), estrangeirismo é o evento que diz respeito àquelas palavras alienígenas, ou seja, as palavras que não foram integradas a língua recebedora. Já o empréstimo linguístico, ainda conforme Manzolillo, ocorre quando as palavras vindas de outra língua se incorporam a nova língua, isto é, palavras que podem ser encontradas nos dicionários da língua receptora.
Ao contrário do que muitos brasileiros pensam, a língua portuguesa recebe palavras estrangeiras desde a sua formação. Segundo Azeredo (2010), a língua portuguesa surgiu a partir de um léxico (conjunto de palavras) que reunia cerca de 80% de palavras de origem latina e outros 20% de palavras pré-romanas, germânicas e árabes. Estas foram as línguas que constituíram inicialmente a língua portuguesa.
Depois de sua constituição, a língua portuguesa foi recebendo e incorporando novas palavras a partir de fenômenos extralinguísticos, ou seja, a língua foi se modificando junto com a história de seu povo. Por exemplo, durante os séculos XVII, XVIII e XIX, a cultura ocidental viveu sob a dominação francesa. Como consequência, a língua portuguesa herdou muitas palavras de origem francesa que hoje não soam como estrangeiras. Exemplo de que este período foi materializado na língua são as palavras abajur, bibelô, sutiã, buquê e outras.
Logo, pensando a partir dos fenômenos, históricos, culturais e econômicos, podemos deduzir o porquê de usarmos palavras inglesas no português brasileiro nos dias atuais. O mundo virtual propicia uma comunicação sem fronteiras e, dia após dia, nós percebemos que a sua língua oficial é o inglês. A aceitação das redes sociais é um fenômeno global, capaz de formar uma ponte entre as culturas, um emaranhado de informações e um elo entre as pessoas. As rápidas inovações tecnológicas caminham lado a lado com o aumento de palavras das línguas vivas.
Em outro artigo publicado em 2014, Manzolillo nos lembra de que atualmente há um crescimento bastante acelerado da ciência, da tecnologia, da moda e dos esportes e, devido às mudanças constantes, nas mais diversas esferas da sociedade, muitas vezes o vocábulo estrangeiro é a única possibilidade viável para nomear os produtos do progresso, por conta da velocidade em que eles surgem no mercado.
Mas, voltando às palavras mencionadas no título, tablet, smartphone, selfie, mouse e e-mail, apesar de serem vocábulos relativamente novos, já são encontrados em dicionários da língua portuguesa como o Grande Dicionário Houaiss e o Michaelis On-line.
Estas e outras palavras de origem inglesa estão tão presentes nas nossas vidas que não percebemos suas origens. Você já se imaginou falando que vai acompanhar uma aula através de uma “prancheta eletrônica” ou de um “telefone inteligente”? Ou já usou o seu “rato” para enviar uma “carta eletrônica”? Essas e outras questões nos fazem perceber a riqueza e as peculiaridades do nosso português brasileiro.
REFERÊNCIAS:
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. 3. ed. São Paulo: Publifolha, 2010.
INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO EM POLÍTICA LINGUÍSTICA (Florianópolis). Diagrama mostra as línguas mais faladas no mundo. 2020. Disponível em: http://ipol.org.br/diagrama-mostra-as-linguas-mais-faladas-no-mundo/?fbclid=IwAR07LJMN6ONc-Q59HMijDAe-lWJLmpCMEa04xJVu8FWQtTc5Xsa-CcGEu-w. Acesso em: 20 out. 2020.
GRANDE Dicionário Houaiss. 2020. Disponível em: https://houaiss.uol.com.br/ Acesso em: 20 out. 2020.
MANZOLILLO, Vito César de Oliveira. Empréstimo Linguístico: o que é, como e porque se faz. Cadernos do CNLF, Vol. XVIII, Nº 03 – Minicursos e Oficinas. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2014.
MANZOLILLO, Vito César de Oliveira. Ainda em torno da dicotomia empréstimo/estrangeirismo. III Letras em Foco - Semana de Letras (FFP/UERJ). Rio de Janeiro, 2000.
MICHAELIS On-line. 2020. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/. Acesso em: 20 out. 2020.
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